quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O mercado da saúde e as emergências

A superlotação nos serviços de emergência hospitalar é um fenômeno mundial. Caracteriza-se pelo seguinte: todos os leitos ocupados; pacientes acamados nos corredores; tempo de espera para atendimento acima de uma hora; alta tensão na equipe assistencial que precisa escolher rapidamente entre o mais grave e o menos grave, e grande pressão para novos atendimentos. Este quadro adverte, claramente, sobre o baixo desempenho do sistema de saúde como um todo, e dos serviços de emergência em particular. A superlotação é um indicador de baixa qualidade assistencial. O fenômeno da superlotação atinge tanto os hospitais particulares quanto os que atendem aos beneficiários do SUS. Nos serviços privados, o leigo tende a interpretá-lo como indicativo de qualificação, enquanto nos serviços públicos como indício de deficiência. O problema tem a mesma raiz: baixo desempenho organizacional. Os que amam a ideia de que as dificuldades da assistência à saúde se resolverão pelo livre mercado, ficam paralisados diante de clientes/pacientes com esperas martirizantes em hospitais particulares. Eis uma falha de mercado.

É previsível uma maior demanda de atendimento em determinadas épocas do ano, em determinados dias da semana. Do ponto de vista gerencial a questão é: Que medidas devem ser acionadas para, num primeiro momento, amenizar o sofrimento pela espera da assistência médica e, num segundo momento, corrigir completamente o problema? Na realidade brasileira tem-se uma complexa equação onde o planejamento centralizado de saúde se associa com a lógica de mercado. Quando pende para um lado ou outro, tem-se uma situação perversa onde a demanda que excede a oferta é racionalizada, de maneira grotesca, pela longa e torturante espera em salas abarrotadas de pessoas em sofrimento. A solução do problema da superlotação nos serviços de saúde passa pelo redimensionamento dos serviços de emergência, e consequentemente, dos leitos disponíveis tanto no setor privado quanto no setor público. É enorme o preconceito com os serviços que prestam assistência aos beneficiários do SUS, em benefício dos serviços particulares. No entanto ambos atuam da mesma forma no atendimento aos pacientes que urgentemente necessitam de cuidados. As evidências apontam que tanto o subsistema privado quanto o público se encontram contidos em sua capacidade de responder adequadamente à demanda da população. A solução passa, inexoravelmente, por acordos públicos e privados. Setores públicos e privados, unam-se em prol do alívio do sofrimento torturante nas emergências. 

Antonio Quinto Neto
Médico e dirigente hospitalar

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ecocidadania e neoindividualismo

Segundo o advogado Christiano Ribeiro, integrante da Comissão de Direito Ambiental da OAB/RS, um dos grandes desafios para o exercício da ecocidadania é a superação do neoindividualismo que assola nossa coletividade emergente. Mesmo que se utilize um discurso social para legitimar projetos desenvolvimentistas nocivos ao meio ambiente, por detrás disso há uma ideologia neoliberal radical de mercado, que reduz a vida a uma mera análise de custos e benefícios, gerando um individualismo sistemático baseado no cálculo das vantagens individuais obtidas dentro de um grupo social, encaminhando os seres humanos ao consumismo, tornado a base antropológica e social da nossa época. Citando Maria José Fariñas Dulces, professora de Filosofia do Direito da Universidade Carlos III de Madri, na Espanha, Ribeiro afirma que esse neoindividualismo possessivo progride e se transforma numa espécie de individualismo de desapossamento, resultando na falta de trabalho, na incultura, na insegurança e na ausência de proteção institucional. O mesmo mecanismo de privação ou desapossamento pode ser aplicado ao equilíbrio ecológico e à qualidade de vida, vulnerados pela dupla consumismo-desenvolvimentismo, que explora nossa incapacidade de valorar bens e interesses difusos, alvará de impunidade para o saquear das futuras gerações.

Esse neoindividualismo está se convertendo numa nova forma de “ética” universal, difundida especialmente pelos monopólios midiáticos, concretizando o que já havia sido anunciado por Thomas Hobbes: o critério da lei do mais forte, que abandona os seres humanos à gestão insegura dos riscos ambientais. E por destruir a dimensão coletiva, solidária e democrática das relações sociais, ele rompe os vínculos de integração e instala os seres humanos numa cultura de consumo e satisfação imediatos, da mesma forma que torna sagrada a competitividade fundamentalista como a base antropológica das relações entre indivíduos e produz uma negação ao diálogo, uma espécie de autismo social de consequências imprevisíveis. Nesse âmbito, fica quase impossível o efetivo exercício da ecocidadania, retirando paulatinamente a legitimidade para a utilização dos instrumentos judiciais disponíveis ao terceiro setor, se este não representar uma verdadeira oposição ao neoindividualismo, desde as suas práticas internas. Para Ribeiro, é em razão disso que as agremiações do terceiro setor ambiental, ao invés de fomentar a cizânia que milita em favor do neoindividualismo antropológico, devem buscar a integração e a educação da sociedade, para que a união ganhe a queda de braço contra o invisible hand que separa para conquistar. 
 
Christian Lavich Goldschmidt 
Jornalista e escritor


http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=47837&codp=1451&codni=3 – sítio acessado em 30/11/2010 às 19:05h.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vestibular para crianças

O que eu estava fazendo no dia 13 de dezembro de 1968, quando foi decretado o AI-5, que marcou o endurecimento da ditadura? Queria ser professor. Estava fazendo vestibular para a Faculdade de Filosofia. Embora hoje eu seja um empresário, nunca deixei de acompanhar as desditas de uma classe a que, um dia, cheguei a considerar seriamente a proposta de pertencer. A propósito, minha esposa insiste que essa seria a minha verdadeira vocação. Acredito no poder transformador da educação. Na necessidade da escola pública de boa qualidade, gratuita e universal, mas me revolta profundamente o desrespeito com que são tratados os professores no momento. A escola tem de ser aberta, tem de acolher a todos, em especial aos mais carentes, mas isso não quer dizer que aos mestres não cabe impor condições para receber os alunos em sala de aula. Tudo na vida tem limites. 

Minha proposta é bem simples. Antes de ingressar no primeiro grau, todas as crianças deveriam ser submetidas ao vestibular das “palavrinhas mágicas”. Quem souber usar as palavrinhas entra. Quem não souber, papai e mamãe levam de volta para casa e só a trazem novamente quando elas tiverem apreendido. Ficam para o semestre seguinte para uma nova tentativa. Quais são essas palavrinhas mágicas? “Por favor; muito obrigado; com licença; desculpe.” Coisas do gênero. As crianças precisam demonstrar que os pais ou responsáveis a estão educando. Ela precisa mostrar respeito às pessoas que as vão ensinar, elas precisam demonstrar que sabem conviver em sociedade. Estamos, pouco a pouco, dando valor novamente à palavra não. Já é consenso de que não é possível permitir tudo aos filhos. Da mesma forma, nossa ânsia de termos um país sem analfabetismo deixa-nos com a ideia de que temos de ter uma aceitação incondicional da criança. Alguns dirão que, ao fim e ao cabo, só os pequenos terão prejuízo. Negativo. Nossa legislação já permite processar os pais por abandono intelectual (grifo do blogueiro). E, ao final, se for necessário abrir uma exceção: o aluno não poderia passar ao segundo ano sem ser alfabetizado e sem saber as mágicas palavras, do bom convívio social. Que se manifestem os contrários, para que tenhamos o bom debate. 

Luiz Fernando Oderich
Da ONG Brasil Sem Grades


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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

E nem desculpas convencem sobre má educação

Mais um problema na realização, na aplicação ou no sigilo das provas do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Há décadas, o vestibular era o terror dos que terminavam o Clássico, o Científico, Técnico em Contabilidade, Secretariado ou Normal, entre outros cursos secundários, para a prestação do vestibular para ingressar em qualquer faculdade, fosse pública ou particular. Pois o Brasil, de lei em lei, de norma em norma, de modelo em modelo não consegue padronizar, aplicar e ter eficiência no Ensino Fundamental nem no Ensino Médio. Como está, tudo indica que o Exame Nacional do Ensino Médio criou mais problemas do que os solucionou. O Enem veio para dar uma oportunidade para os estudantes mais desfavorecidos. No entanto, quem sai bem no Enem também vai bem no vestibular de múltipla escolha, no dissertativo, em redação e em matemática. E quem vai mal no Enem, vai mal em tudo. De tanto forçar a inclusão social artificialmente no ensino, quando a preocupação deveria ser, antes de mais nada, repetimos, o Ensino Fundamental amplo, geral, irrestrito e, muito mais, obrigatório e de qualidade para as crianças do Brasil, o que se observa é um elenco de cotas, exames e avaliações por motivos nem sempre justificados, embora sempre explicados. E nem as explicações têm convencido a opinião pública, menos ainda os alunos que prestam tais avaliações. A diferença de desempenho entre os estudantes em função da faixa de renda é marcante, dolorosamente marcante. Isso é inaceitável no sistema escolar. Estamos medindo o aprendizado com o Enem, com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e com o Sistema de Avaliação da Educação Básica, um problema que deveria ter sido solucionado anteriormente. Há décadas que estamos medindo. Faz muito tempo que é sabido que esses problemas existem. E tudo o que se pratica é medi-los? Não tem sentido. Nenhum problema vai ser resolvido porque ele foi medido várias vezes. Essa é uma distorção do modelo.

O mais triste é que de erro em erro, de fraude em fraude, de desorganização em desorganização a autoestima nacional cai. Simultaneamente, em concursos públicos, futuros profissionais de áreas fundamentais ao Estado pagam para ter acesso às provas de maneira fraudulenta. Que cidadão teremos para exercer tarefas importantes logo adiante? O pior é que está surgindo mais uma explicação para a irresponsabilidade em que se transformou o Enem, que é colocar a culpa nos donos de cursinhos pré-vestibulares, os quais estariam perdendo dinheiro. Claro, antes havia o pavor das provas. Tanto que, há 50 anos, em Porto Alegre, chocou o suicídio de um rapaz que foi reprovado no vestibular e, não aguentando a inevitável frustração da família pela não aprovação para entrar na faculdade preferida, tirou a própria vida. Outros tempos, outro contexto, mas a tragédia ocorreu no bairro Rio Branco. Vamos ter melhores explicações e mais gestão – uma palavra hoje odiada pelos responsáveis pela educação e saúde pública no Brasil. Fazer as coisas bem feitas e de maneira clara, organizada, em todo o País. O Exame Nacional do Ensino Médio em si em uma medida salutar e democrática, desde que bem elaborado e aplicado. Mas temos alguns nem estão aí para a opinião pública.

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=46159 – sítio acessado em 11/11/2010 às 08:32h.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Breve reflexão sobre o conhecimento histórico

O conhecimento histórico tem por características ser inacabado e prescindível.

Inacabado como todo conhecimento científico, mas também por causa dos eventos que analiza e das fontes que utiliza. Os eventos históricos são, por natureza, irreprodutíveis. O historiador os acessa através dos registros legados pelo tempo e suas circunstâncias, assim como pelos agentes históricos, com toda a sua carga de subjetividade inerente. A esta junta-se a do historiador, manifestada em sua metodologia e em sua interpretação. O conhecimento daí advindo pode ser revisado, sob a luz de novos estudos. Em linhas gerais, é assim que se constrói o conhecimento histórico, que pretende refletir, e apenas pode, uma parte da realidade passada, jamais a sua totalidade.

Em face das necessidades dos nossos dias, o conhecimento histórico, principalmente o que diz respeito à história mais recuada, é um artigo prescindível, deslocado para o campo da erudição. Este conhecimento não é pragmático. Porém, o saber histórico nos instrumentaliza de maneira a nos deslocarmos com mais facilidade pela vida, uma vez que nos viabiliza a compreensão da nossa realidade. Enfim, nos potencializa como seres humanos e nos capacita a agir ativamente em nosso cotidiano.

Estas duas qualidades que, inicialmente, parecem desacreditar o conhecimento histórico, pelo contrário, mostram a sua riqueza como ciência estabelecida e instrumento social. Reconhecer a sua natureza não torna a História menos relevante.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A vida em cenas

No circo, o homem pinta a cara
e faz piruetas para o povo sorrir;
no palco, o homem, num ato cênico,
teatraliza o real para o povo se divertir;
no palanque, o homem, num ato cínico,
realiza, teatral, o seu projeto pessoal,
com a cara lisa e o bolso cheio
do real alheio;
e ao povo enganado, nem pão nem circo.

Carlos Alberto de Assis Cavalcanti
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ética é valor ou contexto?

Edson Olliver

Estas eleições são bem atípicas, tanto a nível estadual como federal.  Circula nos bastidores, bares e cafés, nas teorias das ruas, que o seu resultado vai nos responder uma pergunta muito séria: a ética é um valor ou apenas uma percepção contextual e situacional? Ou seja, a ética seria a melhor política ou é um valor cultivado somente por pessoas de princípios? E onde estão os princípios? Eles ainda existem, a começar pelos constitucionais? O recente episódio da sabatina sem a governadora Yeda foi emblemático vindo de onde veio, de mestres. É coisa de cúpulas isoladas ou é de bases unidas? Reflete um realismo? Não seria o caso de todos não aceitarem e se negarem a ir sem se operar princípios constitucionais, ainda mais pessoas do porte que foram ao evento?

Quem tem formação jurídica deveria ser o primeiro a cobrar respeito aos valores e princípios constitucionais ou não? São várias as questões em aberto. O Marketing de Kotler superou a ética? A visão de Porter é uma realidade? Al Ries tem razão? Ou somos uma Nação da estética que supera a ética? Ou apenas dobramos uma esquina errada? Estas eleições vão responder todas as questões, a começar pelo nível de maturidade democrática, da ética, da estética, da dialética, dos princípios. Mas, principalmente, do grau de hipocrisia. Quanto mais madura uma democracia, menor o grau de hipocrisia, eis a velha premissa. Estarão certos os cientistas políticos e sociais? Só as urnas irão nos responder. O momento da verdade vai emergir do tipo de povo que somos. E está próximo.

MBA em Gestão


http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=39069&codp=1451&codni=3 - sítio acessado em 02/09/2010 às 11:48h.
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

As eleições estão chegando...

O que pensam os candidados ao Senado

Entre os meses de julho e agosto, a editoria de política do Jornal do Comércio conduziu entrevistas com 10 dos 11 candidatos ao Senado pelo Rio Grande do Sul nas eleições de outubro. Abaixo você pode reler, na íntegra, estas entrevistas, conhecendo melhor as ideias e o perfil dos candidatos.

Acredito que é preciso fazer
uma discussão na sociedade sobre o papel do Senado. Se for para continuar como está, ele não precisa continuar existindo.

Luiz Carlos Lucas (P-Sol)


Tenho mais de mil projetos apresentados. Entendi que a melhor forma de
ajudar o nosso povo é ficar
por mais um mandato.

Paulo Paim (PT)


Falar em sustentabilidade
implica falar em princípios. Os verdes não são contra o desenvolvimento
econômico e social.
Marcos Monteiro (PV)


Temos que romper com
esse pagamento (dívida do Estado com a União). Falta dinheiro para saúde, educação, segurança, os problemas da população.
Vera Guasso (PSTU)


Não esperem de mim uma legisladora ortodoxa. Temos muita lei. Vou ver tudo
que está no Senado tramitando
e o que pode ser feito.
Ana Amélia Lemos (PP)


Defendo a autonomia do
estado desde 1989, quando estava no PL. E autonomia não só nas questões políticas, mas nas questões financeiras.
Jose Schneider (PMN)


Defendo, em primeiro lugar,
a educação. Assim como a política se degenerou, a educação decaiu bastante. É necessário um programa de emergência.
Berna Menezes (P-Sol)


Minha prioridade é
defender os interesses do Estado,
garantir que o Rio Grande do Sul tenha uma representação mais forte em Brasília.
Germano Rigotto (PMDB)


Tenho dez propostas principais, mas a mais importante é a reforma tributária, incluindo a redução da carga de tributos, e não apenas em algumas áreas.
Roberto Gross (PTC)


Precisamos de infraestrutura urgentemente. O Senado
tem o papel fundamental de contribuir para trazer recursos e aprovar projetos.
Abgail Pereira (PCdoB)


O candidato Luis Carlos Drehmer, do PCB, não quis conceder entrevista ao JC.


Para acessar as entrevistas na íntegra, utilize o link abaixo:

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=36931 - sítio acessado em 18/08/2010 às 10:14h.
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cortez quer debater conceito de desenvolvimento

Para cientista social, crise ambiental é resultado do sistema fordista.

"As pessoas não podem ser responsabilizadas pelo que elas não conhecem." Com essa frase, o cientista social Henrique Cortez introduziu a palestra Crise Ambiental ou Civilizacional. Na visão dele, é preciso aprofundar o debate sobre o modelo de desenvolvimento que queremos para preservar a vida na terra. "Nunca tivemos tantos meios de informação na História da Humanidade. Ao mesmo tempo, nunca tivemos tanta desinformação", afirma.

A palestra de Cortez marcou a abertura da 1ª Semana Interinstitucional do Meio Ambiente, evento promovido em conjunto por órgãos do Poder Judiciário e pelo Ministério Público gaúcho para discutir a situação do planeta e as formas de atingirmos a tão sonhada sustentabilidade. O palestrante coordena o portal Ecodebate (www.ecodebate.com.br), um dos mais visitados da área na internet. Além disso, atua como subeditor da revista Cidadania e Meio Ambiente, publicação bimestral com tiragem de 30 mil exemplares.

"Vivemos uma época de crises. Crise ambiental, financeira, de alimentos. O que pouca gente percebe é que elas estão associadas e fazem parte desse processo capitalista fordista, que começou com o sistema de produção introduzido por Ford (Henry, criador da fábrica de automóveis que leva seu sobrenome e criador do sistema de 'montagem em série')", explica.

Cortez destaca que a base desse modelo é a produção plena para o consumo pleno. "A ideia seria fantástica se vivêssemos em um planeta de recursos ilimitados. Só que a conta não fecha."

Além disso, ele argumenta que, para manter a roda girando, quando o consumo não cresce o esperado, é preciso que haja o desperdício. "Tudo o que é produzido atualmente é feito para ficar obsoleto o mais rápido possível. Por isso geramos tanto lixo", constata.

O maior exemplo de desperdício no mundo, segundo ele, são os Estados Unidos. "A lógica dos EUA é que move o modelo. No entanto, são 258 milhões de pessoas que consomem como se fossem 500 milhões". "Seriam necessários 4,5 planetas para dar conta desse tipo de consumo norte-americano", acrescenta.

Entre os pontos de "desinformação" que circulam na sociedade, Cortez cita um que classifica como mito: "Falam que tem gente demais na Terra e que, por isso, temos que produzir mais para alimentar a todos. A produção atual seria capaz de garantir a alimentação de nove bilhões de pessoas, que é a população estimada para 2050. Entretanto, hoje temos um bilhão passando fome. E porque isso acontece?", questiona, para depois ele mesmo responder. "Porque o modelo cria uma espécie de apartheid social, onde uma parcela da humanidade tem que ser excluída para garantir o consumo e o desperdício proporcionado pela maioria."

Mas então como mudar esta realidade, quer saber a reportagem do Jornal do Comércio? Cortez exalta as ações pontuais que vêm sendo promovidas por grupos de pessoas e entidades. E aponta um caminho simples. "É um novo modelo do 3 Rs: respeito a si próprio, respeito pelo outro e responsabilidade pelo que se faz. Isso poderá levar a humanidade a um sistema sustentável", conclui [...]

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=30497 - sítio acessado em 05/08/2010 às 18:38h.
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terça-feira, 8 de junho de 2010

O despertar da civilização

Sensíveis à gravidade dos fenômenos causados pelo aquecimento global, diferentes setores da sociedade vêm despertando para a necessidade de mudanças

Viver de forma saudável nas cidades é fundamentla, diz Menegat.  João Mattos/JC

Viver de forma saudável nas cidades é fundamentla, diz Menegat. Foto: João Mattos/JC

Em Porto Alegre, se desenvolvem projetos de universalização do tratamento de esgoto e uso de diesel com baixo índice de enxofre. Em todo o Estado se multiplicam propostas voltadas à reciclagem e reutilização de resíduos, como a transformação de sobras de couro em fertilizante e o beneficiamento de materiais oriundos da coleta seletiva. Da mesma forma, os produtos orgânicos conquistam espaço no mercado e fortalecem a economia de dezenas de milhares de famílias em todo o País, possibilitando sua permanência no campo e preservando a biodiversidade. Contudo, o equilíbrio térmico do planeta somente poderá ser restabelecido, no longo prazo, por meio de transformações profundas na relação do homem com o ambiente natural.

Na visão do professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da Ufgrs, o aquecimento global não deve ser enfrentado como se o sistema planetário estivesse doente – este tem 4,6 bilhões de anos e seguirá incólume o seu rumo, apesar da pegada do homem. Segundo ele, tampouco a espécie humana será extinta. A raiz e o alvo da crise é a própria civilização. Resistente em utilizar seu conhecimento para adaptar-se ao planeta, a humanidade empreendeu sua aventura civilizatória tratando de tornar-se a espécie mais apta a dominar a natureza. Considerando-se civilizado, o homem teria perdido a perspectiva de sua evolução. “Estamos imersos no processo civilizatório e ele tem de ser o nosso horizonte. Uma humanidade sem horizontes caminha para onde? Não sabemos. Pode ser para o abismo. Pode não ser”, alerta.

Segundo ele, um passo importante a ser dado é reaprender a viver de forma saudável nas cidades. “Viver hoje na cidade é viver em risco”, pontua. “Tudo nos diz que é bom mudar esse modo de existir, um modo de excessivo consumo, uma perda de consciência da existência da natureza e uma aposta cega na tecnologia”, diz Menegat, acrescentado que o aquecimento da Terra é um problema cultural – “a tecnologia não vai resolver”. Nesse sentido, considera a educação a principal ferramenta para a construção de uma nova cultura planetária, voltada ao não desperdício e à valorização da natureza.

Para o professor-associado do Departamento de Engenharia Civil da Ufrgs Luiz Antônio Bressani, as soluções possíveis passam pela mudança da matriz energética e da forma de utilizar a energia gerada. Sem diminuição dos níveis de consumo, a permanência do homem no planeta se tornaria inviável. “Os Estados Unidos consomem algo como dez ou 15 vezes mais energia do que um país razoavelmente desenvolvido. Se a gente quiser aquele padrão, não tem como. É o mais insustentável”, observa.

Um aspecto abordado tanto por Bressani quanto por Menegat é que as nações mais afetadas pelas consequências do aquecimento global são as menos desenvolvidas. “As populações mais pobres da África, que menos causaram mudanças climáticas, são as que mais vão sofrer com as mudanças”, ressalta Bressani. A fragilidade dessas populações, segundo Menegat, deve ser o foco das preocupações, tendo em vista que os fenômenos causados pelas alterações no clima resultam em enormes perdas materiais e humanas. “Estamos falando de 230 mil mortos por vez”, enfatiza. Bressani também questiona se os países mais desenvolvidos tomarão as medidas necessárias para evitar a tempo a catástrofe, uma vez que, localizados em climas temperados, não sentirão os efeitos do aquecimento na mesma intensidade que os países tropicais. “Eles vão ter mudanças, mas economicamente elas vão interferir menos, a curto prazo. A médio prazo, todo mundo vai ser afetado.”

Governança global é um desafio da crise

A convulsão social e as vultosas perdas econômicas decorrentes do aquecimento global colocarão à prova, cada vez mais, a capacidade de gestão dos governantes. O risco, segundo os professores da Ufrgs Luiz Antônio Bressani e Rualdo Menegat, é de que a crise ambiental gere uma crise de governança. “A crise ambiental vai botar à mostra toda a nossa incapacidade de gerir um sistema complexo como é a Terra”, destaca Bressani. Se o poder público não for capaz de administrar os riscos dos desastres naturais, a tendência é a população perder a confiança. Isso, segundo Menegat, levaria ao caos social. “Se você desacredita nas instituições sobra o estado selvagem, cada um por si”, enfatiza. Para ele, é preciso que o Estado se empenhe no diálogo com os cidadãos, incentivando a participação e a discussão conjunta das soluções possíveis. “A governabilidade da sociedade não está só na contabilidade das cadeiras dentro do Senado. Daqui para frente, governabilidade será também como as instituições serão capazes de responder ao descontrole dos ambientes urbanos, porque, com o aquecimento global, tudo entra numa crescente deterioração.”

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=30103 - sítio acessado em 08/06/2010 às 17:54h.
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Superação do embate entre capitalismo e socialismo

Devemos aprender com as experiências dos outros. Assim, evitaríamos aprender apenas com as lições que a própria vida nos dá, porque elas são muito mais caras. Dito isso, incomoda demais saber que ainda há alguns que se abrigam atrás das teorias incensadas do Capitalismo e do Socialismo, como se essa dicotomia ideológica ainda tivesse razão de ser. Só para quem não sabe que o mundo mudou e, com ele, os modelos econômicos engessados, que morreram. O início do Capitalismo foi na Inglaterra, através da Revolução Industrial. O Socialismo científico ou comunismo tem como precursores Karl Marx e Friedrich Engels, com a publicação do Manifesto Comunista, que explica os fatos que formariam a desigualdade social. Através desse trabalho apresentaram uma teoria onde seriam eliminadas as classes sociais. As pessoas trabalhariam de forma mútua para o bem comum. Tomado no contexto de exploração por regimes monárquicos absolutamente incompetentes e que desdenhavam da população que os sustentava, dá para entender a Revolução de 1917 na Rússia. Repetiu-se, na Rússia, a Queda da Bastilha, na França. Mas tanto o Capitalismo quanto o Socialismo acabaram por escoimar seus erros e rumaram para um ponto onde os pensamentos paralelos por liberdade, igualdade e fraternidade se encontraram. Ou se encontrarão, no infinito. A democracia socialista é o sistema que mais se aproxima do bom Capitalismo, sem os extremismos do Socialismo puro. Da mesma forma evita o endeusamento do mercado, do consumo e das desigualdades sociais que a exacerbação desses dois modelos ocasiona. Pela obstinação dos socialistas ingênuos e dos capitalistas da Terra do Nunca, todos alegam ter razão quando, em verdade, apenas têm paixão pelos seus ideais. O presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), Leonardo Fração, que promoveu o Fórum da Liberdade, afirmou que a diferença do ladrão para o governo, é que o primeiro não pede para sancionar o seu ato. Para o presidente o IEE, mais intervenção traz mais desigualdade e não existe sistema mais justo que o Capitalismo. O evento promoveu debate sobre seis questões: Capitalismo, Socialismo, inflação, política e ideias, intervencionismo e investimento estrangeiro.

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) desintegrou-se há 20 anos e provocou um estrondo que só não foi ouvido pelos fanáticos do atraso. Porém, serviu como pretexto para que os obcecados pela economia de mercado julgassem que o Capitalismo reinaria por mil anos. Não, não, o Capitalismo também teve graves percalços, na quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Agora, a derrocada da economia do mercado sem regras e sem fiscalização acabou por implodir a maior economia, a dos Estados Unidos, em 2007/2008. O que desejam, hoje, os capitalistas e os socialistas de bom-senso, é a inclusão social. Crianças de todas as classes nas escolas em famílias estruturadas, morando em casas próprias e cujos integrantes tenham um emprego. Parece uma simplificação, mas as coisas mais importantes da vida são simples assim. Enfim, a soberba não é menor nos pobres que nos ricos, mas as necessidades e dependência dos primeiros a comprimem de maneira que mal se descobre ou aparece muito resumidamente. Por isso é nas revoluções populares que ela faz a sua explosão. Nada mais parecido com o Capitalismo que o Socialismo pós-URSS. É só refletir sobre as metas de ambas as ideologias.

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=25543&codp=1451&codni=3 – sítio acessado em 14/04/2010 às 09:07h.

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O sentido da vida



Porque estamos aqui? Em algum momento já nos deparamos com esta pergunta, ou já pensamos à respeito, com maiores ou menores pretensões. De diversas maneiras já se tentou responder a este questionamento: pela religião, pela filosofia, pela história, pela ciência e por outras tantas. Podemos muito bem viver sem nos fazer esta indagação e sem respondê-la. Mas, àquele que se propõe pensar à respeito, a vida se expande de tal maneira que se descortina aos seus olhos um leque de possibilidades. Porque a resposta àquela pergunta torna-se o fio condutor da vida, o seu horizonte, o seu alvo, o ideal a ser perseguido incansavelmente mesmo que, às vezes, não alcançado. Qual o sentido da vida? Esta é uma questão que deve ser respondida individualmente.

A vida é efêmera e transitória. Mesmo que, aos nossos olhos, oitenta anos pareçam uma eternidade, não passam de um um grão de areia no tempo que ocorreu, que ocorre, que ocorrerá. E não temos capacidade alguma de intervir neste fluxo, por mais que queiramos acreditar que sim. Somos finitos e estamos à mercê de Cronus. Então, o que fazer com o tempo que temos aqui? Muito temos valorizado o fim em detrimento do caminho a ser percorrido. Todo e qualquer sentido é retrospectivo. Quando estivermos prestes a pagar as moedas ao barqueiro é que poderemos responder as indagações sobre a vida. A relevância dos nossos atos responderá pelo sentido desta. E responderá a quem? A nós mesmos e a ninguém mais. Se olharmos para trás, no derradeiro momento, e formos capazes de reconhecer relevância no decurso de nossa vida, se nos convencermos da nossa resposta, então todo o esforço será recompensado e a vida fará sentido. É nisso que eu acredito.

E é por isso que devemos valorizar a jornada. Se o sentido da vida é reconhecido olhando-se para trás, o caminho torna-se a via condutora para tal epifania. A estrada nada mais é do que a própria vida. São os nossos ideais que nos guiam pelo labirinto desta. Sem eles não passaremos de navios à deriva, de fatos desconexos sem relevância alguma. Acreditar e viver! Eis a chave para o enigma! Por mais irrelevante que possa parecer aos olhos alheios, acredite nos seus ideais. Defenda-os com todas as tuas forças, mesmo quando não houverem mais esperanças de realização. Mesmo quando te achincalharem, não esmoreça. Se o preço a ser pago para que possamos nos orgulhar de nós mesmos é o de sermos taxados como os maiores idiotas do mundo, que assim seja. E bem-vindo ao clube!

"Se não acreditar que pode salvar o mundo, não poderá salvar nem a si mesmo.
Se não acreditar que pode mudar este mundo, crie o seu."


Obs 1: esta reflexão me ajudou a economizar alguns trocados que seriam gastos ou com o psicólogo ou em cerveja.
Obs 2: agradeço aos guris da Tópaz (www.fotolog.com/bandatopaz) pelo hino (ao menos para mim) "O maior idiota do mundo".
Obs 3: e também a Dona Clarisse (espero que seja com dois esses, mesmo), mãe da minha cunhada Karine, simplesmente por ter dito: "Ele é um cara que quer mudar o mundo". Eu havia esquecido disto.
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