quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2012



Ontem assisti ao filme 2012. Um ótimo blockbuster. Os efeitos especiais criam uma atmosfera de expectativa que me pôs torcendo, literalmente, pelos personagens. Claro que o recomendarei, pois dificilmente deixo de fazê-lo.

O filme explora a lenda do fim do mundo, neste caso datado pelos Maias para 2012. O interessante é que este fato é citado apenas em poucos momentos. Aos Maias reconhece-se a capacidade de terem previsto a data, mas a previsão em si não é a causa explorada pelo filme. Esvazia-se o conteúdo mágico-profético de tal acontecimento. A causa, apontada na película, é um fenônemo natural cataclismático, que tem origens extraterrestres. Tal argumento aponta uma visão científico-racional para o fim do mundo. Inclusive isenta de responsabilidades a raça humana por tal acontecimento, o que é interessante pensar em um momento onde discute-se o papel do homem nas mudanças climáticas que estão ocorrendo ou que ainda ocorrerão (http://historiasdogaviao.blogspot.com/2009/03/reflexoes-sobre-o-desenvolvimento.html). É interessante notar, também, que o local escolhido para o aporte dos sobreviventes e para o reinício da civilização humana é o continente africano, o berço histórico do gênero homo.

Por fim, deixo como questionamento o que entende-se por "fim do mundo". Quando ouço falarem que o homem pode provocar este fim, identifico aí um tanto de prepotência. Não acredito que sejamos capazes de acabar com o mundo. Podemos, sim, acabar com os recursos naturais do planeta, o que levaria a civilização humana, como a conhecemos, ao fim. Mas a Terra continuará existindo e um novo equilíbrio se estabelecerá.
.
.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Avatar


Obviamente não sou um crítico de cinema. Pelo menos não daqueles com embasamento para formalizar uma crítica técnica. Considero o cinema um entretenimento, que me agrada muito. Mas sempre faço algumas avaliações sobre os filmes que assisto. Traçando alguns paralelos com o contexto em que vivemos tento absorver o que, além do entretenimento, os autores da obra tentam mostrar. É claro que este é um exercício subjetivo, pois o que apreendo neste diz mais respeito à mim do que aos autores. Enfim, a crítica é algo que é apurado em estudantes de História, mas, neste caso, pende mais à opinião mesmo.

Assisti ontem ao filme Avatar, tão comentado e esperado. E lhes digo que é um ótimo passatempo. O filme é belíssimo! A fotografia é algo inimaginável, muito colorida e cheia de vida. O ambiente criado nos remete facilmente a um outro mundo, durante as horas em que se desenrola a película. O enredo não é muito original: no centro da trama, uma história de amor impensável, em torno da qual se desenvolve uma disputa entre os indígenas e os humanos. Sugiro assistir o filme em 3D. Algo que não fiz.

O filme mostra a relação entre o eu e o outro. Como o desconhecimento leva à incompreensão e à intolerância, algo bem típico de nós, ocidentais capitalistas. E como a ganância desenfreada contribui com este desconhecimento. Mostra, também, uma visão de pertencimento à natureza que hoje nos é estranha. O distanciamento a que nos submetemos gera uma relação inconsequente com a natureza, de mão única. Ela está a nossa disposição, ela nos serve. Esta mentalidade tem origens históricas que podem facilmente ser identificadas nos âmbitos religioso e científico. Acredito que a mensagem do filme seja uma crítica a mentalidade exploratória que, parece, já está cobrando o seu preço.
.
.
.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Sagrado

Toda pró-ação é precedida por uma idéia. Primeiro se concebe, depois se concretiza. A vida humana é regida pelas idéias, em todos os seus âmbitos, apesar de serem perceptíveis apenas pelas suas consequências, muitas vezes.

É neste contexto que proponho a leitura do texto anexo e, também, do post anterior.



"Nenhuma realidade é considerada sagrada pelo simples fato de ser mais imponente ou poderosa."

"Após a dessacralização dos objetos religiosos avançou-se, especialmente no campo da ecologia, para a sacralização de plantas e animais."


http://cid-7120ab09e555f2b4.skydrive.live.com/self.aspx/.Public/O%20Sagrado.doc

.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Filosofia e evolucionismo

"O evolucionismo sugeria uma ideia de criação sem intervenção divina, acabando com a distinção entre os animais e o homem."

"... mas à filosofia permanece a incógnita de nossa condição de seres pensantes."

http://cid-7120ab09e555f2b4.skydrive.live.com/self.aspx/.Public/Filosofia%20e%20evolucionismo.doc

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Deus não existe

Primeiro, cabe explicitar o motivo desta redação. Acredito que as reflexões que se motivam em experiências subjetivas têm relevância, desde que extrapolem a mera opinião e embrenhem-se nos campos da argumentação racional. Este exercício pretende-se um exemplo disto.

O que nos diz a religião cristã? Aqueles que mantiverem uma conduta correta durante a vida serão agraciados por Deus. Como explicar, então, que coisas ruins aconteçam às pessoas boas? Reescrevendo a pergunta: porque as pessoas que seguem os preceitos divinos são tão facilmente prejudicadas? Porque estão tão expostas as malícias de outrem? Porque não são amparadas pelo seu Deus? A resposta imediata: a recompensa para estes não está nesta vida, está além desta. Então pergunto: porque postergar para uma próxima vida a recompensa? Que garantia nós temos da existência desta outra vida? Esta reflexão iniciou-se com uma pergunta subjetiva, cuja resposta é difícil de ser encontrada. É da tentativa de encontrar uma resposta que surgiu este texto.

Muitas vezes ouvi que a devoção a Deus seria a garantia para uma vida digna – entrega-te na mão de Deus e confia! Que as dificuldades que se apresentam seriam oriundas do fato de não professarmos a sua fé. Ouvi, também, que este mesmo Deus é o pai-de-todos, que todos somos irmãos por sermos filhos do mesmo pai. Estranho. Parece-me um tanto seletivo este pai-de-todos e um tanto contraditório. A verdade é que ele só protege (na hipótese de existir) aqueles que o adoram e, portanto, não é pai-de-todos, como se quer fazer acreditar. Um deus que dá suas graças apenas aos que o veneram não me parece muito diferente dos deuses pagãos que tanto os seus devotos combatem em seu nome. Oração, ao invés de sacrifício, apenas. Um deus compreensivo, de compaixão, que sabe o que é melhor para nós. Sabe? Como pode algo ou alguém que se quer temos prova da existência saber o que é melhor para nós, ignorando a nossa opinião? Não me parece muito compreensivo um deus que impõe a sua vontade à dos seus devotos. Não me parece compreensivo um deus que decide o destino da minha vida contra a minha vontade. Parece-me mais um tirano. Ninguém melhor do que eu para saber o que é melhor para mim, o que me satisfaz verdadeiramente, o que confere sentido a minha vida. É inconcebível entregar meu destino a algo ou alguém que não tenho provas da existência. O meu destino será a conseqüência das minhas escolhas. Ou, então, apenas sentarei e esperarei que o destino que me foi traçado aconteça.

Falei em prova de existência. Ponto crucial. Que provas nós temos da existência de Deus? Nenhuma, na verdade. Nenhum de nossos instrumentos investigativos - nosso sistema sensorial e nossa razão - comprovam, concretamente, a existência de Deus. Nenhum desses instrumentos nos fornece uma prova irrefutável da existência divina. Qualquer consideração que não se baseie em argumentos amparados por estes instrumentos é mera especulação. A única “prova” que temos nos é dada por uma crença cega, chamada fé. Acredite e ponto final, ou sofra as consequências. Argumento muito fraco, apelativo e conveniente, para um deus tão poderoso.

Agora trabalhemos com a hipótese de que ele exista. Ainda assim digo que não existe. Se existe um ser sobrenatural que governa as nossas vidas este é a antítese de Deus, cuja denominação cristã é Diabo (apenas uma de tantas). Neste caso, Deus é apenas uma imagem criada pelo Diabo, com o intuito de ludibriar a nossa percepção da realidade. Uma vez que acreditamos em um deus que nos garante, nos conformamos e aceitamos o providencialismo. Manipular a nossa percepção da realidade, para nos inibir a iniciativa e, assim, agir sem oposição. Eis a intenção do Diabo. E faz isso se valendo da imagem de Deus. É fácil sustentar este argumento quando nos damos conta que a regra em nossa vida é a dificuldade, e a facilidade (ou, no mínimo, a não-dificuldade) é a exceção. Quando nos damos conta que a regra é a insatisfação, e não a satisfação. Nada tão verdadeiro como a expressão: “vencer na vida”. O mal, representado pela violência, é recorrente na história humana. É um estado natural de nossa existência. É a luta contra este mal, a instauração de uma ordem não violenta (o bem), o caráter artificial desta existência, portanto.

A religião é uma instituição criada pelo homem (e, conseqüentemente, todos os seus personagens sobrenaturais) com uma função social: conformar e ordenar a natureza humana. Inclusive a religião cristã. O céu é uma projeção da terra, e não o contrário. Quando a religião cristã nos ensina a oferecer a outra face, está nos tirando a liberdade de ação, nos impondo um medo irracional a uma punição oriunda de um deus que não tolera atitudes retaliativas. Ao nos negar o direito de retaliação contra algo que nos prejudica não está nos doutrinando no caminho do bem: está nos subtraindo o direito de defesa, a iniciativa a esta. Ao creditar todas as realizações desta vida a uma outra, está desviando o nosso foco do agora, nos transformando em autômatos conformados, nos tirando a combatividade. Portanto, quando afirmo que Deus não existe, me refiro ao Deus cristão que me apresentaram nas catequeses dos sábados pela manhã. Neste Deus eu não acredito. Não questiono o papel ordenador da religião e até corroboro com este. Questiono a doutrina sobrenatural da religião cristã e sua faceta conformista.

Existe um ser superior, mesmo que não seja este Deus? Não sei. E não vejo razão para tentar descobrir. E, antes que me atirem à fogueira, antes que me apontem o dedo e me acusem de heresia, digo que não deixei de acreditar: acredito em mim e no que posso fazer nesta vida. Não ministre seu tratamento com sentenças como estas: “foi assim porque Deus quis”, “Deus sabe o que faz”, “Deus está guardando algo melhor para o futuro”; são remédios enganosos e mortais. Esta é a minha resposta à indagação que me instigou a reflexão: acredite, antes de tudo, em si e no que pode fazer. E não entregue o seu futuro a um ser abstrato: este futuro apenas será o resultado das escolhas que tu fizeres.
.
.
.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Estou me lixando para a opinião pública"

A frase pronunciada pelo deputado federal Sérgio Moraes (PTB-RS) exemplifica o descaso que nossos pretensos representantes têm para conosco, o desvirtuamento da democracia representativa. É a confissão de culpa.

E a culpa é nossa também, por evitarmos a prática política, ao considerá-la algo chato e que deve ser feita apenas pelos políticos de carreira. O conceito de política "profissionalizada" - entenda-se profissionalizada a atividade que só pode ser exercida por pessoal especializado - nos foi vendido justamente com o intuito de nos afastar da esfera decisória social, delegando aos políticos "profissionais" esta responsabilidade, abrindo o espaço para que estes ajam em prol particular, e não dos interesses daqueles que os elegeram. Olhemos o que diz o dicionário sobre o verbete política:

8. habilidade no trato das relações humanas, com vista na obtenção dos resultados desejados;
9. civilidade, cortesia.

Se política são as relações humanas civilizadas, então praticamos a política a todo o instante, seja no trabalho, na escola, em casa, na rua, seja em qualquer momento e local. Vivemos em sociedade, querendo ou não, e a prática política é inerente ao convívio social. Portanto, se faz necessário que nos atentemos às questões que se colocam neste espaço, que nos posicionemos perante elas e ajamos sempre que pudermos. Ao reconceituarmos e interiorizarmos a política, quebraremos com o status quo de "profissionalização" desta. Esta "profissionalização" nada mais é que o conhecimento específico burocrático, questão que não abordarei aqui. Ao não nos interarmos da política formal, institucionalizada, estamos delegando, realmente, o nosso destino social a terceiros.

A quem recorrer quando nos sentimos lesados por atitudes ilícitas realizadas pelos nossos representantes, e como evitar que isso ocorra? Uma questão que sempre me coloco. A instituição máxima ideal, para tanto, é o Estado. Mas este está corrompido justamente pelos "profissionais políticos", e a sua instância já não é mais garantia de imparcialidade e de defesa dos nossos interesses. Desacredito, também, das manifestações populares e públicas. Não das suas intenções, mas por estas não terem eco nos ouvidos dos nossos representantes, como bem ilustra a frase-título.

Recorro a uma velha e batida solução: o voto. Mas não por ser ele um direito nosso. Ele não o é. Em um país onde se é obrigado a votar, de direito o voto passa a ser coação. Descartando o apelo propagandístico do voto, reconheço nele um instrumento capaz de melhorar este quadro imoral e antiético pintado pelos nossos representantes. Utilizemos a coação do voto a nosso favor.

Mas um instrumento por si só não age, depende de alguém que o manuseie, e bem. Só poderemos manusear o voto com precisão cirúrgica quando reconhecermos a sua importância e real significado. Para isso, é necessário discernimento e conhecimento, instrução, informação, discussão, em suma, educação. Quanto mais esclarecidos formos, mais habilmente utilizaremos o voto. Qualquer ação que vise a promoção da educação, do conhecimento, do esclarecimento, terá meu apoio irrestrito. E não esperemos pela iniciativa de terceiros: promovamos ações individuais neste sentido. Podemos, ainda, fiscalizar as atividades exercidas por aqueles que elegemos. A internet é uma ferramenta que nos possibilita exercer esta fiscalização de maneira prática. Se cada um de nós escolher um representante para fiscalizar, faltarão políticos para tantos fiscais e este trabalho não será tão árduo. E, ao nos depararmos com alguma situação inusitada, não nos esquivemos em pedir esclarecimentos e mesmo em expor publicamente estas situações.

Precisamos reconhecer em frases como a do título a falta de respeito para conosco. Dar vazão a nossa indignação. Participar efetivamente da cena política é de máxima importância para corrigirmos esta desconsideração. Este texto é, na verdade, uma auto-conscientização da relevância desta tarefa.

Recomendo a leitura dos aqrquivos abaixo:





segunda-feira, 4 de maio de 2009

Em busca da felicidade

"Quando se trata de felicidade nada pode ser definitivo".

Começo este post com a frase acima por concordar com o argumento. O conceito de felicidade que utilizamos hoje está relacionado com o âmbito econômico de nossas vidas. Este conceito é fruto do nosso tempo, como todo o conceito o é. A reflexão sobre o que significa, para cada um de nós, o termo felicidade pode ser de grande valia para alcançarmos este estado de espírito, e pode nos ajudar a compreender o contexto de "crise" em que vivemos agora.

Após fugir um pouco do argumento inicial, volto a ele. Concordo que a felicidade não é definitiva e baseio-me em experiências vividas, que me levaram a considerar a satisfação um sentimento muito mais válido, por ser duradouro e constante, em oposição à efêmera felicidade (minha amiga Fernanda não me deixa mentir).

Abaixo está o link para a leitura das reflexões do sociólogo Zygmunt Bauman, publicadas no caderno Cultura de Zero Hora, no dia 11/04/2009.

sábado, 25 de abril de 2009

Liberdade

Liberdade. Na minha prematura opinião é a ausência de relações. Ou seja, a não-liberdade pressupõe a minha relação ou com alguém ou com algo, sempre na dialética dominado e dominante, ora um ora outro.

Esse conceito ideal de liberdade, com a supressão de qualquer relação, nos remeteria a uma situação em que poderíamos fazer o que quiséssemos, em qualquer momento, mas que nos poria em frente à questionamentos difíceis de responder: o que eu realmente quero para mim? Ou, como diz a música: o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? O que eu vou fazer na ausência de relações?

Talvez a própria música responda, em seu verso final: você é tudo o que eu queria.

Para reflexões mais balizadas, recomendo os link's abaixo:

http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoNoticia=12441&pCodigoArea=42 - sítio acessado em 25/04/2009 às 12:52h.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável

Desde os primeiros indícios desta crise econômica que assola o mercado mundial, venho acompanhando as notícias publicadas a respeito nos diversos meios de comunicação. De posse destas informações, articulei um raciocínio sobre o tema-título, embasado, também, nos conhecimentos adquiridos, até o momento, na Faculdade de História que curso. Por ser o meu argumento oriundo de considerações feitas sem o rigor de uma pesquisa científica, fiquei receoso em expô-lo. Até o momento.

Ao me deparar com o artigo que publico ao final das minhas considerações nesta postagem, vi semelhanças entre a minha opinião e a de cientistas de ofício, o que encorajou-me a compartilhá-la. Vamos a ela.

Como sabemos, o planeta Terra e todas as interações de vida existentes nele são regidos por um princípio elementar: equilíbrio.

Há muito tempo que os seres humanos já não vivem mais dentro desta regra, usufruindo dos bens naturais que o planeta oferece em condições que este não consegue suportar.

Pois bem, mesmo que aja um esforço de toda a humanidade para que este consumismo se torne sustentável, o máximo que poderemos fazer é retardar a exaustão dos recursos.

Toda a riqueza produzida pelo homem, todos os bens de primeira ou não necessidade que consumimos, tem origem nos recursos naturais do planeta em que vivemos. E a velocidade com que consumimos é superior à velocidade de reposição destes pela Terra. Não podemos esquecer que, mesmo nos apartando da natureza, ainda estamos sujeitos a ela. E nisto reside um ponto crucial que deveria permear os debates ambientalistas, econômicos, sociais e políticos.

Não acredito que seja possível colocar em prática o politicamente correto "desenvolvimento sustentável" que é pregado, pois ele pressupõe equilíbrio, algo que há muito não existe na relação exploratória do homem com a natureza. Teríamos que rever a nossa práxi econômica para torná-lo sustentável. E aqui volto ao início da minha explanação: este momento é ideal para este debate, mas dependerá da percepção que os verdadeiros timoneiros de nossas sociedades venham a ter das causas e consequências desta crise. Porém, isto não nos isenta de revermos as nossas práticas particulares de consumo.

É claro que o assunto não se esgota aqui, mas minha intenção ao publicar este texto é provocar a crítica sobre o assunto.

No link abaixo, o artigo encorajador.

Crise ambiental é social e política - http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoArea=32

Link's de vídeos interessantes:

O Desafio da Sustentabilidade - http://www.cpflcultura.com.br/video/desafio-da-sustentabilidade
Desenvolvimento Sustentável: uma utopia? - http://www.cpflcultura.com.br/video/desenvolvimento-sustentavel-utopia

quinta-feira, 19 de março de 2009

A herança de Darwin: tudo ainda é verdadeiro


Nobel de Medicina fala sobre a herança de Darwin

A herança de Darwin: Tudo ainda é verdadeiro

Em suas palestras em Porto Alegre, a bióloga alemã Christiane Nüsslein-Volhard vai justificar a atualidade de Darwin. Em entrevista ao jornal Zeit, ela falou sobre a influência do meio ambiente na evolução das espécies, sobre o índice de natalidade entre ricos e pobres, criticou os excessos da bioinformática e destacou a importância da dedicação da mulher à família para a sobrevivência da espécie humana.

A biologia é determinista?
Christiane - Ao nível dos genes, de fato é assim. Existem códigos, regras e processos estabelecidos, embora ainda não tenhamos entendido todos os mecanismos. Mas isso não significa que a genética seja determinista. Não significa que os nossos genes representem um destino que não possamos modificar. Sabemos da enorme influência que o meio ambiente exerce sobre os organismos, especialmente sobre os seres humanos. Os genes são mais fortes do que algumas pessoas queriam que fossem, mas a cultura exerce também uma influência importante e extraordinária sobre nós.

Essa discussão já dura décadas. Atualmente se fala de um percentual de 50% de influência da cultura e de 50% dos genes.
Christiane - Mas esse percentual também significa com frequência que não se pode dizer precisamente se uma propriedade é inata ou adquirida mediante a cultura. Quando fiz minha graduação, havia aqueles que afirmavam ser teoricamente possível fazer de qualquer pessoa um Mozart; para isso, bastava apenas a educação correta. Evidentemente que isso é uma grande insensatez, como hoje sabemos.

Existe uma evolução do comportamento?
Christiane - Evidentemente. Um exemplo: hoje se afirma levianamente que a divisão de papéis entre homens e mulheres poderia ser outra, sem problemas, se as mulheres também exercessem uma profissão. Se as mulheres tivessem feito isso nos primórdios da evolução humana, provavelmente a raça humana teria se extinguido. Na evolução do homem, aparentemente foram selecionadas características específicas, que exerceram um papel importante para a sobrevivência. Se os pais não tivessem se ocupado de seus filhos, estes teriam tido chances menores de sobrevivência. Foi assim que se desenvolveu o cuidado dos pais.

Para escrever seu livro sobre a origem das espécies, Darwin viajou durante cinco anos. E ele focava com precisão. Desde então, a Biologia se transformou. Tornou-se analítica. Disseca, observa no microscópio, decompõe a vida em moléculas.
Christiane - Está se tornando cada vez menor o número de pessoas que observam com precisão. Espero que não estejam em extinção. Bioinformática e biologia computadorizada assumem cada vez mais espaço. E certos informáticos da Biologia pensam que podem calcular tudo - e não conseguem distinguir um gato de um cão. Muitos biólogos modernos acreditam muito nos dados do DNA e ainda vão querer provar que homens e mulheres são idênticos, porque o DNA é praticamente igual.

Os apontamentos de Darwin são, hoje, apenas documentos que pertencem ao passado?
Christiane - Seguramente não. Estou convencida de que, se Darwin não tivesse anotado o que observou na natureza, teríamos perdido definitivamente importantes informações. Hoje em dia ninguém conseguiria escrever tais coisas. Essa riqueza de observações! Ele deve ter olhado, escutado e cheirado durante todo o tempo - com olhos, ouvidos e nariz muito atentos.

As ideias de Darwin foram instrumentalizadas ideologicamente. A sua expressão "survival of the fittest" (sobrevivência do mais adaptado) foi traduzida como sobrevivência do mais forte, a sua luta pela sobrevivência foi utilizada ideologicamente como base de ideologias raciais.
Christiane - Ele mesmo não viu isso com prazer. Mas encontramos a expressão "struggle for existence" na obra dele. E evidentemente também há essa luta e seleção. E naturalmente os mais bem adaptados têm mais descendentes. Recentemente fui perguntada sobre o que teria sobrado das ideias de Darwin, como se não tivesse restado nada. Mas tudo ainda é verdadeiro!

Por que o mau uso que se fez de suas ideias ainda continua surtindo efeito até hoje?
Christiane - Porque a maioria das pessoas não conhece mais a natureza, não reflete mais sobre a natureza, apenas sobre o ser humano. E aí surgem os típicos mal-entendidos. Muitos afirmam, admirados, que "são os pobres que têm muitos filhos" e que, se Darwin tivesse razão, os ricos deveriam ter mais filhos. Mas essas pessoas não se dão conta de que esse índice baixo de natalidade entre os ricos é um fenômeno cultural relativamente recente. Nas culturas humanas mais antigas, isso foi com certeza diferente.

Nos Estados Unidos, num passado recente, fortaleceu-se a luta dos criacionistas contra a teoria da evolução. A senhora percebe essa tendência na Alemanha?
Christiane - Não. Eu vejo apenas que muitas pessoas não entenderam corretamente o que a evolução propriamente é, como ela funciona. A crítica a Darwin alimenta-se, sobretudo, dos equívocos do darwinismo social. Talvez devamos novamente chamar a atenção para o fato de que Darwin não fez afirmações sobre a cultura humana. Karl Marx foi, a propósito, um grande admirador de Darwin. Marx enviou a segunda edição de O Capital para Darwin, com uma dedicatória. Mas Darwin não a leu. Podemos afirmar que a natureza funciona de certa maneira de forma capitalista. Mas a natureza de Darwin é, antes de mais nada, cega. Permite que aqueles que conseguirem sobrevivam. Ele mesmo apontou explicitamente para o fato de que a natureza é impiedosa. Ninguém vai cuidar para que a lagarta da borboleta não seja devorada por passarinhos.

Mas sociedades humanas podem superar esse darwinismo impiedoso.
Christiane - Nossa cultura é capaz disso, mas somente em determinados contextos e com base em um autêntico esforço civilizatório. Em situações extremas como, por exemplo, guerras, a natureza aflora novamente sob forma de brutalidade na luta pela própria sobrevivência e de seus descendentes. Isso nasce conosco. Por outro lado, nossa evolução também elevou a nossa capacidade cultural. E, com isso, também se originaram as religiões, que reprimem certas maldades de nossa natureza e objetivam possibilitar a sobrevivência de grupos maiores.

Apesar disso, as visões da criação de seres humanos, de clones, da otimização genética do ser humano voltam sempre à tona.
Christiane - Mas penso que elas não se deixarão viabilizar. Mesmo que se trate de objetivos grandiosos como o bem-estar da humanidade: nenhum cientista iria vivenciar os resultados de suas experiências de criação de seres humanos. Isso leva muito tempo. Não é por nada que o tempo das gerações de nossos animais domésticos seja um terço do tempo da geração de um ser humano. Ninguém ainda criou um elefante. Se alguém fosse querer criar soldados de Saddam Hussein, ele mesmo não iria mais vivenciá-los.


http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoNoticia=12146&pCodigoArea=41 - sítio acessado em 19/03/2009 às 11:34h

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Igreja e o chimpanzé


A Igreja e o chimpanzé

Jovem. Avança pelo corredor estreito e deserto. Para diante da porta fechada e bate. Quem o atende tem cara de Sigmund Freud e também o discurso dele: "A culpa é a mãe", diz ao paciente, que nem convida a entrar no consultório. Duvido que o autor dessa propaganda para o banco anunciante tenha se dado conta da brincadeira leviana e perigosa que faz com o estigma que a mulher leva na testa desde o Velho Testamento, em que a perda do paraíso é relatada como decorrência do mau comportamento de Eva, o que se alojou no inconsciente da humanidade e, obviamente, também no de Freud. Qualquer um que tenha lido sobre ele mais do que uma orelha de livro sabe que bebeu da fonte bíblica, reafirmando-a em suas teorias.

Uma delas é exatamente a que se refere à mulher, abrindo um caminho também na literatura psicanalítica - a face supostamente científica das religiões monoteístas, embora a maioria de seus seguidores tente distanciar-se delas - para a história que alguém criou, garantindo a existência de um deus e se inventando como porta-voz das determinações que lhe atribui. Contraditória, a Igreja Católica diz que veio em socorro da mulher, instituindo a devoção a uma virgem, o que transforma as demais, aquelas que reproduzem através do contato sexual com humanos, em filhas de Lilith e, portanto, indignas de oficiarem uma missa. Contraditório, o islamismo afirma que a mulher menstruada é alguém em estado de impureza, o que o judaísmo - tronco das duas - também prega. Mas não é esse sangramento que a mulher suporta estoicamente, todos os meses, expressão da vontade divina? E não resulta também dessa vontade o apelo sexual, decorrente da testosterona e, por isso, muito mais forte no homem do que na mulher?

Sim e não. Depende da circunstância e de quem faz o discurso, numa variação que promove reações de absoluta e total incoerência. E crueldade. Como a do arcebispo pernambucano Sobrinho, que excomungou os médicos e a mãe da menina que estava grávida por obra do padrasto estuprador. Como entender a manifestação desse representante do Vaticano? Se aceito que nada acontece sem a permissão divina, aceito que o estuprador também contou com ela. E se aceito que nada acontece sem a permissão divina, aceito que a mãe da menina e os médicos que fizeram o aborto também contaram com ela. Portanto, estamos quites. A Igreja é seu próprio antídoto.

Não é possível tê-la como diretriz, nem mesmo agora, quando o Vaticano se penitencia reconhecendo validade nas teorias sobre a evolução das espécies de Darwin. Corre-se um risco de vê-la mais próxima da (in)justiça que consegue livrar a cara dos infratores, defendendo-os como reféns da própria testosterona. Se é assim, porque matá-los não é permitido, deveriam ser submetidos à castração química, o que evitaria a repetição do crime. Em que medida se faz isso no Brasil? Não se tem informações sobre essa providência, que se presta facilmente ao discurso de quem, defendendo direitos humanos em busca de visibilidade, interpreta-a como interferência na liberdade de ir e vir. Essa gente esquece que, quando o estuprador impõe sua sexualidade a outro ser humano, criança ou adulta, também está roubando a liberdade dele. Além disso, é mais fácil perdoar o criminoso, porque "a culpa é da mãe" dele, segundo Freud.

Num único hospital paulista, as crianças são 43% dos atendimentos de vítimas sexualmente abusadas. E, mesmo louvando a presente humildade da Santa Sé, não acredito que Darwin, se estivesse vivo, colocaria o homem que regride ao estado instintivo de um chimpanzé na mesma balança em que ela coloca as vítimas dele. Agora, o que mais me espanta não é a incoerência bíblica da caminhada humana. Até entendo que há nela boas intenções guardadas em metáforas. O que me deixa atônita é a inércia dos crentes diante dela, porque simplesmente abdicam do direito de questionar e se posicionam na manada. Como ponto de partida, por que não pensam sobre a ordem divina "crescei e multiplicai-vos"? Se o Vaticano realmente acredita nisso, o celibato dos padres é um pecado. E mais uma contradição.

Maria Wagner é Editora de Cultura do JC

http://jcrs.uol.com.br/colunistas.aspx?pCodigoColunista=227 - sítio acessado em 13/03/2009 às 11:13h.

terça-feira, 3 de março de 2009

O tamanho da dominação estrangeira na Amazônia


O tamanho da dominação estrangeira na Amazônia

2/3/2009

De quem é a Amazônia? Nas escolas, os professores ensinam que é dos brasileiros. Al Gore, que já foi vice-presidente dos EUA, discorda. Em Londres, o pedido escrito no guardanapo de um restaurante declara guerra: "Lute pela Amazônia. Torre um brasileiro".
Há um fato. A Amazônia é imensa. Tem o tamanho de 17 países europeus juntos. E outro fato. A região é riquíssima em recursos. Por isso, dá para entender o interesse estrangeiro nela. Ao longo da história, essa cobiça foi escondida atrás de máscaras como a que Abraham Lincoln usou quando propôs ao então governo brasileiro que doasse lotes de terra na Amazônia aos negros que ele havia libertado, mas dos quais desejava livrar a sua administração.
Em 1983, Margareth Tatcher declarou que "Se os países subdesenvolvidos não conseguem pagar suas dívidas, que vendam suas riquezas, suas fábricas e seus territórios". Se levarmos em conta - ela certamente fez isso - o ouro que o Brasil desembolsou para pagar a dívida de Portugal com a Inglaterra quando comprou sua independência, a indigesta sugestão faz sentido. Em 1989, foi a vez de o francês Jacques Mitterrand se manifestar. "O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia". Em seguida, o russo Gorbachev afirmou que "O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia a organismos internacionais."

Devemos temer uma guerra pela Amazônia? Nos anos 1990, Geraldo Cavagnari Filho, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, listou motivos. Segundo ele, entre os argumentos que a Secretaria do Conselho de Segurança Nacional apresentou para justificar a criação do Projeto Calha Norte, em 1985, estavam: a cobiça internacional dos recursos minerais da região e o crescente trânsito ilegal de estrangeiros. Esses argumentos foram repetidos na implementação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Em 2004, o general-de-brigada Marco Aurélio Costa Vieira disse ao jornalista Javier Godinho que um levantamento do Exército havia constatado "o risco de o Brasil perder 56% do seu território", justamente o mais rico em minerais, petróleo, fauna, flora e água potável. Vieira acrescentou que não acredita em movimentos organizados, mas apontou a existência de 20 bases militares dos EUA cercando a região, para controlar o narcotráfico e a guerrilha, além de mais de 600 ONGs, instituições religiosas, científicas e culturais. No dia 5 de março de 2008, Rolf Hackbart (Incra) relatou que "3,1 milhões de hectares da Amazônia Legal estão nas mãos de estrangeiros". Ele previu um agravamento da situação, porque, para comprar um imóvel "basta ser residente no País e apresentar uma carteira de identidade" e "para ter uma empresa basta ter autorização de funcionamento". No início de 2009, Mara Silvia Alexandre Costa, funcionária pública federal, levou um choque em Manaus quando soube que em Roraima, onde apenas uma em cada dez pessoas é roraimense e pouco mais de 70% do território são demarcados como reserva indígena. E atenção: "Na única rodovia em direção ao Brasil que liga Boa Vista a Manaus, (800 km) existe um trecho de aproximadamente 200 km da reserva Waimiri Atroari fechada pelos índios entre 18h e 6h. Brasileiro não passa, mas o acesso é livre aos europeus e japoneses. Os americanos entram quando querem. Detalhe: se a pessoa não tem a autorização da Funai, mas tem a dos americanos, tudo bem. Para completar, a "maioria dos índios fala inglês ou francês, mas não fala português". Vamos perder a Amazônia beijando a mão do bandido se o Brasil não acordar.

http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoNoticia=11944&pCodigoArea=32 - site acessado em 03/03/2009 às 16:36h.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

FHC defende descriminalização da maconha para consumo pessoal


FHC defende descriminalização da maconha para consumo pessoal

12/2/2009

A descriminalização da posse de maconha para o consumo pessoal pode ser uma das saídas para a erradicação das drogas. Uma avaliação sobre essa possibilidade é uma das sugestões do relatório apresentado ontem pela Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia. A organização não-governamental tem à frente os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México).

O documento sugere uma revisão das políticas de repressão às drogas na América Latina, com foco em saúde pública, tratando os dependentes como pacientes e não como criminosos e investindo na prevenção voltada aos jovens, grupo onde há o maior número de consumidores. De acordo com a ONG, apesar dos grandes investimentos, a estratégia de guerra às drogas, que tem ênfase na repressão à produção e na criminalização dos usuários, não tem obtido sucesso.

O ex-presidente Fernando Henrique explicou que a sugestão de descriminalização não significa tolerância. "Reconhecemos que a maconha tem um impacto negativo sobre a saúde. Mas inúmeros estudos científicos demonstram que o dano causado por esta é similar aos do álcool e do tabaco", disse. FHC admite que o ponto é polêmico, mas defende a discussão. "Precisamos quebrar o tabu que bloqueia o debate", reforçou.

A comissão também argumenta que a criminalização não diminui a demanda, mas implica a geração de novos problemas. Além das questões de saúde, a entidade afirma que o encarceramento de usuários não condiz com a realidade da América Latina (o maior exportador mundial de cocaína e maconha), considerando a superpopulação e as condições do sistema penitenciário. "A repressão propicia a extorsão dos consumidores e a corrupção da polícia", diz o texto.

Segundo o relatório, os governos devem focalizar sua ação no combate à repressão sobre o crime organizado e devem também reavaliar a repressão sobre o cultivo. A sugestão é que os governos desenvolvam, paralelamente, campanhas de prevenção voltadas aos jovens, com linguagem clara e argumentos consistentes.

Para o ex-presidente do Brasil, as campanhas educativas para prevenir o uso das drogas deveriam seguir o modelo daquelas criadas para conter o consumo de tabaco. As conclusões da comissão, formada também por intelectuais e representantes de diversos setores, devem ser apresentadas na próxima reunião das Nações Unidas (ONU), em março, em Viena, na Áustria. O encontro tem o objetivo de avaliar as políticas de drogas em todo o mundo.

http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoArea=36 - site acessado às 15:41h do dia 12/02/2009.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mais conhecimento, menos certezas


Mais conhecimento, menos certezas
23/1/2009
Michele Bicca Rolim,especial para o JC
É fato. O avanço tecnológico tem os dois lados da moeda. Trouxe novidades e facilidades ao nosso cotidiano. Entre elas, o acesso rápido à informação e a possibilidade que se tem de viajar para qualquer parte do mundo. Em contrapartida, também contribui para o efeito estufa, o distanciamento nas relações humanas e catástrofes como as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial e, 56 anos depois, a destruição das torres do World Trade Center, em Nova Iorque, em ato terrorista. A precariedade da existência humana também se tornou mais perceptível a partir das informações que se tem hoje sobre o fio das leis das físicas que sustenta o universo. O avião que sobrevoa a cidade pode cair sobre nossas casas. E se um meteorito cair no jardim? Disso resulta que, se antes as pessoas temiam principalmente as doenças incuráveis, agora seus medos e fobias ganharam o acréscimo de outros motivos.
Para falar sobre esse tema é preciso, primeiro, definir o que é medo e o que é fobia. São sentimentos diferentes, avisa o psiquiatra Rodrigo Grassi de Oliveira. Ele explica que "o medo é uma reação normal e faz parte da sobrevivência do ser humano; é uma resposta natural que visa proteger ao organismo de situações que de alguma maneira podem lhe causar danos". E completa, afirmando que "quando o medo começa a trazer um prejuízo funcional, ou seja, traz problemas em várias áreas da vida, passa a se chamar fobia, já não é mais uma reação de proteção. Prejudica, tornando-se patológico".
Quais os medos da sociedade contemporânea, em que se vive um paradoxo: à medida que o conhecimento aumenta, passamos a ter menos certeza. "Antes, a ciência tentava tornar o mundo o mais previsível possível, hoje ela produz diferentes riscos e introduz as incertezas no nosso dia-a-dia", observa o sociólogo Adão Clóvis Martins. Segundo ele, "em decorrência da globalização o conhecimento não pertence mais a um grupo reduzido de cientistas, porque as informações são compartilhadas e isso, de certa maneira, transforma o cotidiano das pessoas." Neste contexto surge o medo das inovações científicas tecnológicas, ou seja, muita gente teme o celular, tem medo de perder os dados, de colocar informações em um site ou num blog. "Todos esses pequenos medos modernos traduzem um medo maior, que é de os indivíduos não possuírem mais elementos que lhes assegurem o controle de suas vidas". O sociólogo exemplifica: "O texto pode desaparecer pela ação de um hacker ou as informações colocadas em um site podem ser utilizadas por outras pessoas".
Ameaça à necessidade de esquecer
Além dos motivos de medo apontados pelo sociólogo Adão Clóvis Martins, para o psiquiatra Rodrigo Grassi de Oliveira, a tecnologia trouxe mais um problema sério à sociedade moderna, que é o da perpetuação da memória e das lembranças. Atualmente há uma espécie de memória virtual na internet. Nela, o internauta pode ter acesso às preferências musicais, estilo de vida, principais atividades, amigos e fotos de qualquer indivíduo, basta que tenha orkut. Vídeos sem autorização são colocados no site Youtube, como o polêmico de Daniele Cicarelli com o namorado. Isso contraria, diz Grassi, um dos mecanismos de proteção do ser humano, extremamente importante: o esquecimento. "Imagina se as pessoas lembrassem tudo que fizeram na vida. Elas não conseguiriam fazer mais nada. Esquecer é essencial para que se possa seguir adiante. Antes, quando acontecia uma situação, o pai a contava ao filho, e assim por diante, mas chegava o momento em que a história terminava. Agora não acaba nunca".
Mas, para o sociólogo, esse ainda não é o maior medo da vida moderna. O que está na ponta, segundo ele, é o medo do espaço público. E ele alerta: "Se esse medo persiste, coloca em risco a própria possibilidade de vivermos em uma democracia". É onde Martins localiza uma contradição da sociedade moderna, que, segundo ele, "trazia uma grande promessa de espaços democráticos; a cidade foi pensada dessa maneira, como um espaço público de convivência e reconhecimento do outro, mas o que se percebe hoje é a negação desse espaço público, que é definido como perigoso, como ameaçador e inconveniente, porque nele muitas vezes você tem que conviver com o outro".
Para esse medo já surgiu um contraponto, que é a criação de espaços públicos privados, os chamados condomínios fechados e equipados por sistemas de segurança. Porém, mesmo que as fachadas das casas sejam de vidro, como se seus moradores quisessem compartilhar sua intimidade com o entorno, aqui não se pode falar em democracia, porque, explica Martins, "nos lugares homogêneos, você encontra com o outro não em uma situação democrática, porque o outro é o subalterno, o piscineiro, o jardineiro etc". E o que está por trás no abandono do espaço público? O sociólogo responde que é o temor da violência, que, no fundo, é o medo da morte. Ele acrescenta que "podemos entender a morte não somente como o fim de um sinal vital, mas também como perda do que o indivíduo possui e do que procurou acumular".
No Brasil, o índice de violência é alarmante. Isso ocorre, conforme o sociólogo, porque ao longo do século foi alimentada a crença de que o povo brasileiro era um povo bondoso e caridoso que coloca o coração na frente da razão. Esta visão encontrou contestadores. Um deles é Paulo Prado. No texto Retrato do Brasil, o autor questiona a alegria atribuída ao brasileiro e diz que, na verdade, o povo é triste, mas é capaz de rir de suas desgraças. Martins concorda. "De certa maneira, se você olhar os programas de televisão, grande parte do que nos faz rir são as nossas desgraças. Por exemplo, no programa Zorra Total (TV Globo), uma assistente social toca nesse que é um dos grandes temores no Brasil: o medo do desemprego e do rebaixamento social. Nesse quadro aparecem os novos pobres, a quem se ensina como devem se comportar em uma situação de pobreza. E o que faz o brasileiro? Ele ri".
A violência sempre foi algo negado oficialmente, embora sempre tenha existido. "Nosso grande problema é que, ao negarmos a existência da violência, não nos preparamos para enfrentá-la, ou seja, não criamos instituições políticas públicas nem estruturas psicossociais para fazer frente ao medo que sentimos por causa dela. Diferentemente da Europa, onde o medo é um elemento estrutural, portanto, as políticas que foram produzidas levaram em consideração a existência do medo e da violência". Segundo o psiquiatra Rodrigo Grassi de Oliveira, a falta dessas instituições faz toda a diferença, pois para que o medo não se torne uma fobia é preciso haver políticas de prevenção, como leis de proteção à infância, e políticas sociais que permitam que o indivíduo se sinta protegido.Outro fator que também contribui para que o indivíduo desenvolva um quadro patológico é a imprevisibilidade do risco, segundo o médico psiquiatra. Ele explica que todos nós estamos programados para funcionar de uma determinada forma e que, se um indivíduo é colocado numa situação imprevisível e não tem como se programar para enfrentá-la, isso por si só é estressante. Por exemplo: você está se sentindo protegido e de repente sofre um sequestro-relâmpago. Esse tipo de situação, totalmente imprevisível, deixa as pessoas vulneráveis.
Um agravante: o medo virou mercadoria. Virou instrumento de lucro. "Existe uma cultura do medo; ele revolucionou a indústria da segurança, que vai desde a fabricação de cadeados e chaves a sistemas cada vez mais sofisticados", afirma o sociólogo. Além disso, o medo alimenta uma sensação de diferenciação. O sociólogo diz como: "Já é símbolo de distinção, por exemplo, colocar um imenso portão na frente da casa, o que dá visibilidade à existência de um sistema eletrônico. Não é preciso ver a casa, mas quem vê o portão fica sabendo que há uma distinção de status nele".
Existe solução para os problemas da vida moderna? Se existe, quem é responsável por ela? Segundo Martins, quando se diz que o indivíduo é responsável e não se criam instituições coletivas, ele se sente abandonado. "Diferentemente de outras sociedades, em que a tarefa de solucionar os medos era coletiva, em nossa sociedade ela é individual, o indivíduo tem a obrigação de lidar e solucionar os próprios medos. Portanto, o coletivo não vale absolutamente nada. É por isso que os consultórios estão cheios e aumenta cada vez mais a venda de medicamentos para controlar a ansiedade."
Os grifos são de Rodrigo Nickel
http://jcrs.uol.com.br/noticias.aspx?pCodigoArea=42 . Site acessado em 23/01/2009 às 14h26min.