quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sobre o aumento das tarifas dos transportes coletivos de Porto Alegre

“Ninguém gosta de aumento, mas todo mundo gosta de ônibus novos.” Esta frase foi proferida por Jaires da Silva Maciel, presidente do Comtu (Conselho Municipal de Transportes Urbanos) e veiculada no Jornal do Comércio, no dia 09/02/2011, no artigo intitulado “Tarifa de ônibus sobe 10,2% e fica acima da média da inflação”. Minha indignação perante mais esta imposição ao povo foi tamanha que somente agora, com mais calma, consigo ordenar as diversas questões que me afligiram. Enquanto se debatia ferozmente o reajuste do salário-minímo (que continua abaixo do mínimo necessário, ressalto), foi concedido um aumento de 10,2% na tarifa porto-alegrense de ônibus, 60% acima da inflação registrada no ano de 2010. E sua vigência foi imediata, ao contrário do paliativo oferecido para amenizar a contundência do aumento, de isentar a segunda passagem dos usuários do cartão TRI, desde que não exceda o prazo de meia hora entre uma e outra viagem, que vigorará a partir de 01/07/2011. O presidente Maciel, naquele mesmo artigo, atribuiu tal percentual ao incremento de 242 veículos novos na frota de coletivos. Muito bom. Só quero saber onde estão estes veículos novos, pois vi nenhum na linha que utilizo (Santo Agostinho). Assim como também quero saber como estão distribuídos os veículos climatizados, uma vez que nem de perto 40% desta linha que utilizo possui ar-condicionado (o percentual foi informado pelo presidente Maciel). A situação se agrava nos horários de pico, quando os passageiros são transportados como sardinhas, em uma superlotação desumana, e como sacos de batata, jogados que são de um lado para o outro dentro do veículo, sem conforto algum. Aproveito para ressaltar a péssima qualidade do serviço prestado pelos funcionários das empresas de transporte coletivo. Muitos motoristas (o adjetivo evita a generalização) aceleram e freiam exageradamente, desconsiderando que transportam pessoas, e não coisas. Fiscais que “tocam a boiada” para dentro do ônibus, como ouvi um dizer na parada, quando retornava da aula para casa. O foco do serviço já não mais é o consumidor, e sim rodar mais a roleta com menos carros à disposição.

Sempre defendi a utilização do transporte coletivo como opção ao trânsito caótico que se instala em Porto Alegre, mesmo ciente do quanto deixa a desejar. Inclusive desconsiderei até agora a hipótese de ter um automóvel particular. Mas, frente a mais esta demonstração de desrespeito ao contribuinte, começo a rever minha posição. Manifestos foram feitos contra esta imposição e deram com os burros n’água. Infelizmente. Assim como tenho consciência que este meu desabafo não terá maiores repercussões junto aos nossos “representantes” no poder. A situação fica mais periclitante ainda quando a instância que deveria considerar a opinião da população, ou seja, o Estado, não é mais garantia de apoio. Está na hora de começarmos de fato a mudar este quadro, seja através de manifestações concretas e contundentes, como as que presenciamos no mundo árabe, seja através da educação cidadã, para que entendamos que qualquer atividade que exerçamos, qualquer serviço ou bem que disponibilizemos, não são um fim em si mesmo. O fim está nas pessoas que compartilham o espaço diariamente.
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Um comentário:

  1. O pior é que ficamos sem possibilidades... não temos uma boa infraestrutura para ter carro, não temos ciclovias para andar de bicicleta e não temos segurança para andar de moto.

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